sábado, 23 de outubro de 2010

Caparica

Capa rica debaixo da qual escondes o tesouro do amor. O universal envolve a terra de cheiro a maresia. Nas ondas abruptas do sal, as veias daqueles que pescam homens sem linhas, nem destino. Destinados porém a algo que ninguém sabe o que seja e teima em roubar sacos de rebuçados em lojas quase vazias. Escondem-nos nas algibeiras sem fundo da imaginação que consola o centro da existência sem passado, nem presente.

Na canseira da vida, ouço suspiros de alguém que remexe os cacos da vida, fazendo soar bem fundo gemidos abafados de dor, suor, lágrimas, sangue a correr à pressa. Entrecortados, ao longe, os motores de muitos cavalos, sem relinchar. Ainda os bicos que não se poupam no seu chilrear, ao desafio. Os humanos bem teimam em jorrar palavras. Umas vezes, dignas de brotarem das fontes das entranhas, outras, de submergirem apenas nos confins das trevas, da escuridão. Misturam-se sons de canos metálicos de águas obrigadas a correrem para conforto das pessoas, presas a elas, criando dependências artificiais. Ouço-te ainda...ao longe, não muito, o mar estende-se azul. Hoje é dia de Verão! O Sol, astro maior, brilha sem vergonha, sem medo de se mostrar, irradiando toda a sua luz.

Lá, no Palácio nobre, onde o verde, o azul, o castanho- terra, o branco de cal, reflectora do astro maior, no brilho do teu olhar. Pareces pensar, umas vezes cabisbaixo, outras vagueando nos pensamentos que a mente teima em trazer...outras ainda, de sorriso aberto como o mar ao mergulho. É Verão! Aproximam-se dias estendidos, preguiçando em redes de pescadores sem barco, sem o ritmo dos ponteiros que implacavelmente correm para tempo nenhum.

O calor do Verão convida a pensar lentamente...palavra por palavra, gesto, por gesto, olhar por olhar...sentir. Mergulhemos nele e vamos até onde ele nos levar.